Léo Daniel

Amar é servir. Servir é ser livre para Amar.

Textos

Sobre bem e mal
Araraquara, 11/11/04.
Segundo artigo para a coluna “O contador de histórias”
Leonardo Daniel Ribeiro Borges



Sobre bem e mal

Saudações amados leitores! Nesse nosso segundo artigo da coluna “O contador de histórias”, vamos falar sobre bem e mal. Na semana passada, falamos do começo das histórias, e “fechamos” o artigo com uma luta... Uma luta entre o Sol e o Dragão, uma disputa para ficar com a princesa, seria então a luta entre o bem e o mal? O Sol é o bem e a sombra do Sol o mal? Como provar que o mal não existe se há tanta maldade no mundo, tanta crueldade e abominação?
Mas não perca a calma meu irmão, não perca a esperança de encontrar a solução, o bem e o mal no mundo imaginário do homem e ainda mais quando se é criança, é a vivência de um papel, herói ou vilão, anjo ou demônio, soldado ou terrorista, na verdade quando se é menino somos todos guerreiros, vivemos plenamente a ação, o adversário é necessário para que haja o jogo, jogo que permite a vida, jogo que ensina a viver... Qual é o problema em brincar de luta? Luta entre o bem e o mal? A arte marcial em sua essência não é bélica, é a imagética de um mundo reconhecido pelo o limite e sua negação, limite no corpo, no movimento e na mente, vence o corpo pelo movimento e movimenta-se pelo corpo, superando os limites da mente.
O contador de histórias tem que está além do bem e do mal, saber transitar entre os dois, e, se fazer da síntese na qual “há muita maldade nos virtuosos e muita virtude nos malvados”, só assim se consegue ser verdadeiro, dominar as asas da imaginação com leveza indo para a imensidão das possibilidades poéticas da história contada. Já dizia Aristóteles que o caráter se conhece com a ação, portanto a ação faz o homem! O herói é herói pelos seus acertos, por sua consciência, o vilão é vilão pelos seus erros, por sua inconsciência.  
Se o contador se identifica com apenas um papel, se toma uma metade da história com sendo a história toda, ele erra... Pois distante da dualidade necessária para que o enredo aconteça, o que se verá é uma superficialidade na abordagem dos conteúdos simbólicos que a criança naturalmente iria apreender, prejudicando inclusive o aprendizado daquilo que a criança iria depreender para a sociedade.
O contador de história é o olhar da novidade que viu o coração das personagens, mas revelou só aquilo que foi dito, só aquilo que foi feito, assim o mito contado, se explica por si mesmo. Já nos contos de fadas, a memória e o passado, têm pouca importância, o que vale mesmo é o foco narrativo, pois só se narra pelo olhar do herói ou heroína é nele que recai o destino e as adversidades. Nas fábulas, o bem e o mal são como óleo e água, não se misturam, o contraste entre ambos é amplo e facilmente visível, a moral vem com a explicação...
O Dragão rouba a princesa porque ela é a luz dos seus olhos é a luz da sua alma, ele não quer devorá-la ele precisa dela para viver.
O Dragão rouba a princesa porque ela é doce, e sua fome será saciada pela carne humana.
Qual das duas versões vocês gostaram mais? Qual Dragão trás a paz? Seja qual for a escolha, a história tem que ser bela do início ao fim, o mal e o bem não se definem assim, simplesmente por um gosto superficial, preconceitos do que é certo ou errado, para os gregos o mal é kakós,isto é, o feio e o bem é kalós, isto é, o belo. Vocês conseguem imaginar um anjo de Deus feio? Monstruoso? Quem é feio não é anjo! É demônio? E os anjos caídos? São feios ou bonitos?      
O protagonista é aquele que luta primeiro, para que o antagonista possa lutar também, a ação muda o tempo inteiro, hora é de um, hora de outro.
Não tenham medo do mal, para quem anda descalço tantas pedras no caminho não seriam ruins, se ao seu lado o destino se abre sem fim. Segundo Nietzsche o que acontece por amor, está além do bem e do mal.
Na próxima história que forem contar, estejam nas estrelas, elas sabem da leveza que é ser luz, a poesia irá se fará.

Leonardo Daniel Ribeiro Borges*
leodanielrb@yahoo.com.br
*Leonardo é poeta, professor, contador de histórias e escreve esta coluna para o nosso jornal.

Leonardo Daniel
Enviado por Leonardo Daniel em 03/11/2020


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