Léo Daniel

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Textos

O labirinto e o homem
JORNAL O IMPARCIAL-ARARAQUARA/SP
TERCEIRO ARTIGO PARA A COLUNA “O CONTADOR DE HISTÓRIAS”
LEONARDO DANIEL RIBEIRO BORGES

O labirinto e o homem

Saudações amados leitores! Mais uma vez estamos reunidos, atentos ao universo artístico da contação de histórias, no artigo de hoje iremos falar do medo, do escuro, do sombrio, e da luz que há de mostrar o caminho, vamos falar do labirinto, do labirinto e o homem, muito se tem dito do monstro do rei Minos, o touro de Minos, o Minotauro que habitava o terrível labirinto construído pelo Dédalo sob as ordens desse rei, dizem os eruditos, os psicólogos que o Minotauro representa a força descomunal da natureza sobre o homem, e que sua primitiva força instintiva vencida por Teseu, representa a vitória da civilização, há até quem se compadece dessa morte alegando-a um crime brutal, e há também aqueles que a julgam necessária, vitória da razão sobre o “Mal”.
A beleza dessa história está realmente em suas proporções enigmáticas, que nos fazem refletir e sentir a essência da nossa condição humana numa dualidade entre ser ou não ser, ser como o herói ou como o touro, ser apolíneo (discípulo do deus Sol Apolo) ou dionisíaco (discípulo do deus Vinho Dioniso), fica o convite para que conheçam essa história na íntegra, no “Livro de ouro da mitologia”, de Thomas Bulfinch, com tradução de David Jardim Júnior, tem uma belíssima versão, na internet também se encontra belas versões e gravuras.
Mas hoje vamos nos concentrar nessa dualidade existencial, vale-nos Sheakspear ser ou não ser eis a paixão! Essa dualidade é o próprio labirinto! É o próprio homem! Realidade na ficção... No inconsciente humano há a reminiscência de uma eterna presença de ser, aquilo que está além da nossa personalidade, além dos afetos, além do corpo e da mente, os orientais chamam esse principio essencial de budhata, e é nela que reside a manifestação divina, paralelo a isso há o Ego e suas cristalizações psicofísicas, o Ego pode representar contrário do budhata, pode ser representado pela Medusa, e até pelo Minotauro, porém o Ego não é o labirinto, o labirinto é o atrativo do Ego ao encontro fatal. O labirinto se fecha, quando passamos pelo umbral, mal sabemos o que é o mal e já teremos que enfrentá-lo, cada vez mais assustados andamos sem direção...
A cada curva vem uma dúvida, aonde vou? Cadê o monstro? Socorro! O atrativo do Ego para que nos perdemos é a mentira, pois cada vez mais acreditamos na saída e assim viramos vítimas, vítimas dos nossos próprios passos, passos que se tornam desesperados, ao se escutar os passos do Minotauro. Passo rápido nem sempre é a solução, olhar pra si, sentir a respiração, olhar pro alto meditar novos Salmos, faria bem ao coração...
“Vis o pérfido absinto Pôs no teu ser um negro labirinto, Desencadeou sinistra ... Ó meu ódio, meu lábaro bendito, Da minh'alma agitado no infinito”. Diz Cruz e Sousa num de seus últimos sonetos, realmente a palavra labirinto é derivada da palavra lábaro, ou seja, é do pilar fundamental que advêm os outros filamentos do poder, no centro do labirinto há o equilíbrio dessas forças, o lábaro ereto em direção ao cosmos, torna as paredes ao seu redor uma simples ilusão, encontrar a síntese e se perder novamente na ilusão, é um drama maior do que a luta entre o Sol e o Dragão, é ficar preso novamente nos conceitos da mente sobre bem e mal, é não se vê Minotauro é temer ser Teseu.
Se no labirinto há o equilíbrio, se o equilíbrio está na mente, as paredes do labirinto são todas as teorias que abundam o mundo e prendem o intelecto em algo não transcendente, escondendo o lábaro da verdade numa fuga de si mesmo.
E o que se apreende disso tudo para a prática da contação de histórias? Se apreende muito! Muito mesmo, pois a narrativa é tecida num emaranhado de informações que tem dois caminhos! Conduzir o ouvinte ao lábaro do seu templo interno, ou se perder nas paredes da ilusão, quem conta uma história deve está suspenso ver o labirinto do alto, contemplar suas paredes teóricas, mas de forma alguma quebrar a ilusão, assim como Ariadne, deve o contador permitir que ouvinte, amarre um fio no seu dedo, para não se perder no caminho...
Na próxima vez que forem contar uma história, estejam nas estrelas, elas sabem o que é ser luz, a poesia se fará.


Leonardo Daniel Ribeiro Borges*
leodanielrb@yahoo.com.br

*Leonardo é poeta, professor, contador de histórias e escreve esta coluna para o nosso jornal.
Leonardo Daniel
Enviado por Leonardo Daniel em 03/11/2020


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